quinta-feira, 21 de julho de 2011

Step by step


Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.Sou isso hoje... Amanhã, já me reinventei.' Tati Bernardi

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Nina - Chico Buarque

TEXTO POSTADO NO SITE BACIA DAS ALMAS

«A ideia de Bonhoeffer de que a graça que não produz uma vida radicalmente diferente é “graça barata” é um traição da verdade bíblica sobre a graça. É claro, todos gostariam que a graça de Deus produzisse em cada vida humana o fruto de uma vida integral e santa, mas o caso é que, mesmo quando isso não acontece, a graça permanece incondicional, perdoando e aceitando por completo essa pessoa falha. Bonhoeffer substitui a graça por um antiquado e incorreto moralismo medieval e por uma religião mecanicista. Sua ideia de “graça barata” revela que ele anseia novamente por uma espécie de legalismo e de condicionalismo que nos moldem. A graça, porém, é livre, radical, incondicional e universal, ou então não é graça e não tem nada de boa nova – visto que, se não for assim, não consegue atingir o centro da patologia à qual de outro modo estamos algemados para sempre, sem esperança. Não consegue libertar-nos da ansiedade destrutiva que produz toda nossa enfermidade e pecado.
[...] Bonhoeffer, que compreendia tão bem a graça de tantas maneiras, rendeu-se inadvertidamente à noção de uma graça condicional em suas observações sobre graça barata. Naquele momento de descuido ele cobiça novamente pelo legalismo, obscurecendo o fato de que a graça é gratuita; que pode ser pressuposta eternamente; que é radical, incondicional e universal. Graça condicional é graça nenhuma.» (J. H. Ellens, Radical Grace). []

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando eu não acordo

Hoje o dia acordou com cheiro de velho
Mas pode ser eu que não tomei banho ainda
Entre alfazema e channel
Existe desejo
(prefiro ser feito da pele que vejo
E de cardioolhos)

Eu assisti a brisa dançando no teu sorriso
Dançando o teu sorriso
Era uma ciranda cigana antiga
Guardada à naftalina
(as crianças nunca morrem
Se andarem com o nariz na frente de tudo)

O silêncio perdeu o mapa
Pra Santiago
Mas achou o dia acordando
E o cheirou, e o cheirou
E no cheiro achou um canto

segunda-feira, 11 de julho de 2011

NA MESMA MOEDA(parte do exto)


Perfeitamente sensato era Jesus, que nutria um saudável desprezo pelas instituições políticas e não gastou uma gota de saliva condenando a estrutura falida, opressora, corrupta e tremendamente injusta do governo romano. O que deveríamos aprender com o exemplo dele é não esperar nada de bom de governo algum; que nenhum governo merece mesmo que se fale mal dele; que se o reino de Deus está próximo, somos nós que devemos dar evidência da proximidade dele.
De forma muito teologicamente correta, o que Jesus fazia é justiça com as próprias mãos.
Todo seguidor dele deveria ir e fazer o mesmo.
Paulo Brabo
Bacia das  almas
site da  foto: baixaki.com.br

domingo, 10 de julho de 2011

 

Suavíssima

Os galos cantam, no crepúsculo dormente...
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente...

Os galos cantam, no crepúsculo dormente...
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma...

Fica-se longe, quase morta, como ausente...
Sem ter certeza de ninguém... de coisa alguma...
Tem-se a impressão de estar doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma...
E os galos cantam, no crepúsculo dormente...

Os galos cantam, no crepúsculo dormente...
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente...

Os galos cantam, no crepúsculo dormente...
Tão para lá!... No fim da tarde... Além da bruma...

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma...

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma...
E os galos cantam, no crepúsculo dormente...

Cecília Meireles

DO ATELIÊ 17 (ian capillé ) Eu e outras poesias

O que ela diz quando o vento chora

Aquilo que entorta o mundo,
que entorna os mares;
a nave que voa fundo
e que aspira o céu.

Move-me a ventania do coração;
alma penada e rima perdida -
duna do corpo, suada e lambida:
move-me o vento dessa prisão

Bailarina de furacão,
a vida se arrepia
na brisa ou na ventania
no sopro ou no tufão

E a nota se faz batida
e o ritmo se faz noção
quando o choro do vento vem vindo
cheio de premonição

Então, a vida se revolta
São ventos de revolução!
As ondas viram viagem,
as rimas viram balão

E de vento em vento,
inventa-se uma solução.

 

Invenção sobre o vento

Olho no reflexo
das gotas de apuros.
Meu olho é complexo
conjunto desses muros

A natureza morta
passa em passos presos
tanto tímida, quanto corta
meus dedos, velhos novelos

Meu labirinto, tem porta de entrada
A tempestade é que faz o caminho
por dentro de mim, repinta meu ninho
e pela saída só deixa a pegada

Da chuva, o vento me invade
esvazia meu ventre
vela essa voz
e sussurra esse solitário suspiro

Qual bailarina de furacão
A vida se revolta
- são ventos de revolução

As ondas viram viagem,
as rimas viram balão

E de vento em vento,
inventa-se uma solução.


http://atelien17.blogspot.com/

sábado, 9 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011

QUER ENVELHECER COMIGO?

O DIA SEGUINTE

Blog  O MEU OLHAR

OUTONO


CANÇÃO DO OUTONO
Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh'alma
Num langor de calma
E sono.
Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relambra o passado
E chora.
Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido...
                                            Verlaine
                  (Tradução de  Alphonsus de Guimaraens)
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pidp/pidp010754.htm
(FOTO: fotografia.blogspot.com)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

DA BACIA DAS ALMAS

O valor da pérola e o preço da graça

 postado por   Paulo Brabo



Em Mateus 13:44-46 está registrado que Jesus assim descreveu o reino do céu:
O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo. O Reino dos céus também é como um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou.
[...] Quando leio essas parábolas penso com frequência num jovem que tive o privilégio de conhecer. Sua “pérola de grande valor” era uma mistura de cocaína e heroína. Por isso ele sacrificou todo o resto – sua saúde, sua família, um teto e um lugar para dormir, todas as suas possessões mundanas, – até não ter nada além da roupa do corpo e um violão. Ele amava aquele violão: viva dizendo que era a sua alma. Mas um dia penhorou o violão: “penhorei a alma”.
Tendo só a roupa do corpo e o dinheiro que recebeu pelo violão, tudo que ele conseguiu comprar foi uma “vírgula” de heroína (um décimo de grama, apenas o suficiente para deixá-lo alto uma única vez). Tendo vendido finalmente sua “alma”, essa era sua pérola de grande valor.
É aqui que a parábola termina, mas na continuação da história do meu amigo algo inacreditável acontece. Tendo descolado a sua heroína ele entra num beco para transar a droga, e ali depara-se com outro amigo que também é usuário de heroína mas não tem dinheiro, nem drogas, nem nada valioso para vender. O que faz meu amigo com sua pérola? Ele a compartilha. Ele a divide – o tesouro pelo qual sacrificou todo o resto – e dá metade a seu amigo, sem qualquer esperança de retribuição. Ali, num beco da zona leste do centro de Vancouver, meu amigo engajou-se num ato de generosidade e de sacrifício pessoal superior em escala a qualquer outro ato de generosidade ou sacrifício pessoal que eu jamais tenha visto praticado – quer por parte de cristãos ou de quaisquer outros. Pense o que quiser sobre o uso de drogas: o valor da pérola para meu amigo e a extensão de seu sacrifício suplantam em muito qualquer outro ato de bondade jamais praticado por mim.
E a verdade é que a atitude de meu amigo não é exceção. Em comunidades de usuários de drogas e outras comunidades de gente pobre não é incomum uma estirpe de economia fundamentada na graça, em que se dá sem se esperar receber de volta.
Daniel Oudshoorn
Poser or Prophet

http://www.baciadasalmas.com/

terça-feira, 28 de junho de 2011

UM ROSTO

DIRETO DA BACIA DAS ALMAS II - POR PAULO BRABO

Um professor errante depara-se com um homem cego


Site dessa imagem uniblog.com.br

Foto de Túlio Oliveira)


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Um professor errante depara-se com um homem cego, e seus discípulos exigem imediatamente: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (João 9:2). A pergunta e sua denúncia mostram que os discípulos raciocinam em termos teológicos; pensam em categorias de trangressão e punição, crime e castigo, dívida e restituição. Sua ortodoxia requer uma lógica, pelo que crêem que todo conflito tem uma causa moral, que todo sofrimento é em algum sentido justificado e que todos acabam recebendo o que merecem, mesmo que seja a graça. Interpretam o mundo pela perspectiva da teologia, e são obcecados com o problema do pecado.
Jesus vê o mundo em termos narrativos. “Nem ele pecou nem seus pais” ele esclarece, “mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus” (v.3). No que deve ter soado como blasfêmia, Jesus propõe que a adversidade não é punição pela transgressão. O conflito é oportunidade de fazer avançar a trama – e fazê-la avançar rumo a um desenlace que se mostre satisfatório para todos. A iniciativa divina não está em rastrear e punir o pecado, mas em retificar a condição do pecador. Fazer “as obras de Deus” é redimir a narrativa de um homem: é mudar a sua história de modo a resgatá-la. O que a narrativa requer – o que Deus requer, nas palavras de Jesus – é uma intervenção que resolva o problema do pecador.
http://www.baciadasalmas.com/

DIRETO DA BACIA DAS ALMAS - POR PAULO BRABO

Longe de um jardim



Site dessa imagem

saomiguelcomunidade.wordpress.com


Como eu ia dizendo, tudo é irrecuperável. Tudo se perde. Talvez nem tudo seja inevitável, mas sem qualquer dúvida tudo é irreversível. Esta é a maldição deste universo, e também sua mais desconcertante fonte de beleza.
Há uma visão a respeito de Deus que poupa a divindade precisamente desse constrangimento – poupa-o da irreversibilidade que caracteriza a essência da experiência humana e da realidade. Essa é provavelmente a visão mais popular a respeito de Deus, talvez por dar a impressão que, tornando tudo no universo recuperável para Deus, está fazendo um grande favor à reputação da grandeza divina.
Segundo essa visão, Deus é onipotente no sentido em que é capaz de, em cada momento da história e até o fim, reverter qualquer injustiça, reparar qualquer erro, anular qualquer deslize, ressuscitar qualquer personagem, engendrar qualquer final feliz. Para os que abraçam essa visão, Deus pode se quiser apagar os horrores do nazismo e cancelar o embaraço das cruzadas e das inquisições. Pode apagar toda a história que nos separa da Queda ou do Caos (a mesma história que nos une a eles). Pode apagar todos os traços do constrangedor experimento que é o nosso universo e deixar a lousa imaculadamente limpa para outra tentativa. Se não o faz permanece sendo questão da inegociável autonomia divina; porém devemos entender como magnífico consolo saber ou acreditar que, caso quisesse, ele poderia.
Esse Deus fora do tempo e segurado contra terceiros é uma curiosidade filosófica e existe inteiramente à margem do testemunho apaixonado da narrativa bíblica. O Deus da Bíblia conhece plenamente e sabe lamentar pungentemente o peso do que é irreversível; ele conhece a vastidão da sepultura, a assolação das omissões, o abismo profundo das ausências, a cicatriz sem consolo das violências, o terror sagrado das traições. E em Jesus, para quem acredita nele, Deus experimenta na própria carne cada uma dessas desolações.
O Deus da Bíblia é um marido traumatizado pela deslealdade da esposa, um homem marcado pelo abandono dos amigos, um visionário ultrajado pelo fogo da traição e da incompreensão; é um ressuscitado com cicatrizes muito visíveis, um idealista que não desconhece a amargura, um leão vivo que é também um cordeiro que conheceu a morte. Se não deixa em momento algum de amar, não é por ter o conforto de poder restaurar a qualquer momento o que foi perdido, mas por saber que tudo no universo e na história que não foi redimido pelo amor é para sempre irrecuperável.
Como tudo é irrecuperável, segue-se que tudo é santo, mesmo aquilo que a experiência humana tem de mais abominável e aterrador. Santo, numa palavra, quer dizer singular. Cada momento é santo porque é singularíssimo e irrecuperável, cada injustiça é santa porque reside num momento que poderia ter sido vivido de outra forma e nunca será. Nunca mais.
Talvez seja esse o sentido e a necessidade do lago de fogo postulado pelo Apocalipse, o lago de enxofre que arde dia e noite para todo sempre, paralelamente aos esplendores do paraíso e quem sabe ajudando a iluminá-los. Os momentos abomináveis da história humana – os momentos abomináveis da minha história – são irreversíveis e a justiça ausente deles é para sempre irrecuperável. O lago de fogo existe para que sejam eternamente lamentados, isto é, eternamente celebrados, e esse incansável ranger de dentes talvez seja o mais próximo que esses momentos chegarão da redenção.
Seria ao mesmo tempo injusto e inconcebível que o Paraíso prescindisse dessa eterna dor, da qual brota a flor mais imaculada e cegante da sua beleza. As folhas da árvore da vida curam as nações, mas não mudam a história de suas enfermidades. A ressurreição injeta vida no que era inerte e estéril, mas não apaga as cicatrizes da violência e as reminiscências da morte.
POSTADO  NA BACIA  20/06/2011
http://www.baciadasalmas.com/

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Desejo primeiro - http://www.astormentas.com/PT/poema/1694/Desejo%20primeiro

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
Sérgio Jockyman
 

Palavras





Palavras


Ter cuidado com as palavras,
inclusive as miraculosas.
Para as miraculosas faremos nosso melhor,
às vezes elas enxameiam como insetos
e não deixam uma picada mas um beijo.
Podem ser tão boas como os dedos.
Podem ser tão firmes como a rocha
que você finca seu traseiro.
Mas elas podem ser também margaridas e feridas.

Sim, sou amante das palavras.
Elas são pombas que caem do teto.
São seis laranjas sagradas pousando no meu colo.
Elas são as árvores, as pernas de verão,
e o sol, sua face apaixonada.

No entanto elas me faltam.
Tenho tantas que quero dizer,
tantas histórias, imagens, provérbios, etc.
Mas as palavras não são boas o suficiente,
as incorretas me beijam.
Às vezes eu vôo como uma águia
mas com as asas de uma cambaxirra.

Porém tento ter cuidado
e ser gentil com elas.
As palavras e os ovos devem ser manejados com cuidado.
Uma vez quebrados são impossíveis
de reparar.
 ANNE  SEXTON
Tradução Priscila Manhães

Mulher-cereja

Mulher-cereja

Ele se surpreendeu com aquela doçura. Beirava quase um leite condensado descendo garganta abaixo. Mas conteve-se em apenas observar. Quando chegou à casa dela, observou uma zebra em cima da geladeira, em vez de um pingüim. Embora ambos mamíferos fossem em branco e preto. Concluiu assim que ela sempre tinha uma forma de transgredir, ainda que sutil. Teve medo. Quase achou sua casa parecida com o apartamento de Hepburn, em “A bonequinha de luxo”. Ela, meio atrapalhada, serviu refrigerante. Ele, mesmo sendo tutor de uma úlcera, bebeu.Como negar alguma coisa a ela? Como? Se ele tinha tanto a pedir? A TV da sala ficava em cima da máquina de costura. Ela mesma fazia suas roupas. Mas tão pequena - ele pensou. Quem tiraria aquela TV dali? Em exatos 10 segundos sofreu o ciúme dos que não têm nem por que ter ciúme. Ele não era nada seu. Mesmo assim, desejou animadamente levar o cachorro de pelúcia dela para tomar sol. Antes, antes mesmo de tudo – do beijo, do toque, do amasso – ele queria ter o que fazer por aquela mulher.Ela ofereceu cerveja gelada, mostrou uns vinis antigos e uns mapas da França. Precisava ser amigo apenas e se controlar. Precisava ser amigo. Quase um anjo naquele apartamento anos 50. Um anjo. Não um animal. Segurava-se. A boca dela rosa. As mãos mexendo e dançando no ar sem parar, enquanto ela falava, falava, falava._Você não vai me beijar? – perguntou ela.

domingo, 19 de junho de 2011

Luís Fernando Veríssimo


Instruções para se roubar um coração

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.

Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.

Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago... e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava... e é assim que se rouba um coração, fácil não?

Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.



- Luís Fernando Veríssimo

sábado, 18 de junho de 2011

ORFANDADE

ORFANDADE
"Meu Deus,
me dê cinco anos.
Me dê um pé de fedegoso com formiga preta,
me dê um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dê a negrinha Fia pra eu brincar,
me dê uma noite pra eu dormir com minha mÆe.
Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande.
Ó meu Deus, meu pai,
meu pai."
Adélia Prado

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/adeliaprado.html

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fé em Paul Tillich





Contraste entre o modelo fiducial da e o tillichiano, conhecido como personalista- éxtático. Os filósofos da religião identificam a confiança em Deus como elemento central da na Bíblia. Na definição de Tillich a não é função distinta da pessoa mas abertura extática para o incondicionado. É, pois, abrangente. Mas deveríamos chamar essa atitude de ? Talvez fosse melhor chama-la de consciência religiosa. O autor procura chegar a uma síntese das duas posições.
Um dos temas clássicos da filosofia da religião é o da natureza da , que também é central na teologia cristã, e Tillich lhe dá atenção especial, como se sabe. O tratamento de Tillich tem suas particularidades; sua filosofia da religião é ontológica, e fundada no princípio da identidade, e tem, de modo geral, um procedimento ex-cátedra, no sentido de partir de uma ontologia fundamental para a interpretação da experiência religiosa.
Tillich encontrou forte resistência, na América, entre filósofos empiristas, que pretendiam utilizar algum critério de demarcação para enquadrar a crença religiosa, quase sempre de uma forma negativa, e criticavam a “retirada Tillichiana” para além do esquema sujeito-objeto, e sua teoria da linguagem religiosa. Em contrapartida, a maior parte dos novos trabalhos em torno da natureza da e da crença religiosa na filosofia analítica da religião anglo-americana, mantém seu teor empírico, mas é surpreendentemente positiva em relação à cristã. Mantém-se empirista no sentido de partir da experiência religiosa concreta, discutindo os problemas clássicos do conhecimento de Deus, da linguagem religiosa e da própria natureza da a partir do seu acontecimento. Ao mesmo tempo, não é descuidada em relação à fenomenologia; William Alston, por exemplo, é um filósofo analítico da religião e, simultaneamente, um fenomenólogo.

domingo, 12 de junho de 2011

DEUS É



A frase “Deus é”, diz tudo. Eu uso muito essa frase por absoluta convicção de que, acerca de Deus, não há outro modo melhor de “dizê-Lo”.
Que tenho eu a dizer acerca de Deus, se não que Ele é?
Quando eu era mais jovem ficava lendo as teologias sistemáticas e as dogmáticas e me perguntava: Por que será que eles perdem todo esse tempo falando de Deus ao invés de refletir sobre o homem?
Isto porque, para mim, desde a infância na fé, Deus jamais poderia ou poderá ser objeto de estudo. Deus é para ser conhecido, jamais explicado. Pois no dia em que melhor se o explica, nesse mesmo dia mais se o desconhece.
Ora, o estranho é que quanto mais Ele se revela a você—em você—, menos você tenta explicá-lo, e mais você o conhece.
Parece para mim que toda tentativa de explicar Deus revela a nossa ignorância sobre Deus. Esse “Deus objeto de estudo” é apenas a alma humana; e os “mistérios de Deus” a serem estudados pelo homem, é apenas o inconsciente humano.
Para mim, assim fica mais verdadeiro e mais prático.
Se eu passo a chamar a teologia de uma psicologia dos arquétipos do sagrado no homem, estou em muito melhor caminho do que quando pretendo que os estudos teológicos sejam sobre Deus.
Não! eles não são! Teologia é projeção do homem, apenas isto. Portanto, quem desejar se conhecer melhor um pouco, veja sua própria elaboração teológica, posto que a teologia é apenas a construção de um nicho psicológico no qual colocamos, de modo entronizado, a divindade que nós criamos. Esse é o último altar a ser derrubado!
Ora, o fato de eu ter sido criado à imagem e semelhança de Deus me dá um ponto de percepção de Deus em mim, mas ainda não é o conhecimento de Deus.
Daí a teologia ser apenas uma psicologia que toma os “arquétipos sagrados” e elabora uma “projeção de Deus” como se fosse uma revelação do próprio Deus.
É apenas em mim que eu conheço a Deus, mas não é à partir de mim, posto que a revelação do Deus que é, me silencia justamente porque não é uma elucubração minha.
O Deus elucubrável é apenas a minha psicologia transferida para Deus, pois não tenho coragem de dizer que quando falo Dele, estou, quase sempre, apenas falando de mim. 
Assim, eu enxergo melhor a mim mesmo quando eu me pergunto: Como eu sinto e interpreto Deus em mim?
Quando eu respondo sinceramente essa pergunta estou fazendo uma confissão de como eu projeto Deus. Ou seja: de como Deus é sentido à partir de mim. Mas quando eu não tenho nada a responder, estou, pelo silencio, fazendo a confissão que só pode fazer quem conhece a Deus, posto que todo aquele que o conhece sabe Dele apenas como aquele que é. Portanto, para além da discussão!
Ora, esse Deus que é, não agrada, porque não serve aos propósitos da teologia. Isto porque acerca Dele não há comentários a escrever. Esse Deus que é, não está em nenhum processo em-si. Ele é.
É sem dúvida que esse fato de se ter apenas o Deus que é, nos deixe muito desconfortáveis, posto que preferiríamos “um Deus em processo”; e, portanto, aberto para ser moldado por nós.
O Deus que é, todavia, é o Alfa e o Ômega, o Principio e o Fim. Ele é. E se Ele é, o que me cabe é amá-Lo. Não me cabe entendê-Lo. É meu dever crer Nele, não tentar dissecá-Lo.
Ora, esse Deus não estudável é insuportável, pois com Ele tem-se que viver exclusivamente pela fé.
De fato, só existe teologia porque não há conhecimento de Deus. E só existem as dogmáticas e as sistemáticas porque não há fé.
Mas não é a fé que fixa Deus. É Deus quem fixa a fé. Deus não decorre da fé, mas a fé sim, decorre de Deus.
Isto é temor do Senhor. E a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem!

Caio

 04/02/2006
http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=02161
 
esse livro é um espelho, um rastreamento imenso , uma mirada ampla sobre literatura brasileira da primeira década do século XXI: GERAÇÃO ZERO ZERO, reunião de contos de 21 dos mais significativos autores nacionais contemporâneos segundo crítico NELSON DE OLIVEIRA, - nas livrarias pela EDITORA LÍNGUA GERAL apartir dessa semana: eu abro com 4 contos inéditos! GERAÇÃO ZERO ZERO -
Flávio Viegas Amoreira   - http://www.facebook.com/profile.php?id=100001611262494

sexta-feira, 10 de junho de 2011

DIRETO DA BACIA DAS ALMAS


Incorporado por   Paulo Brabo

21 de Setembro de 2007

Estocado em Fé e Crença
A distinção mais útil que encontrei nesta caminhada foi a que estabeleceu Jacques Ellul entre fé e crença. Crença é aquilo que professamos acreditar; é o contéudo doutrinário peculiar à nossa facção religiosa, expresso com palavras muito bem escolhidas em nossas declarações de fé. Não há, por outro lado, conjunto de palavras suficiente para definir adequadamente a fé. Nossas crenças são passíveis de exposição, mas nossa fé é questão pessoal – seu conteúdo é o mistério tremendo, a tensão superficial entre eu e o universo, entre eu e o desconhecido, entre eu e o futuro, entre eu e a morte, entre eu e o outro, entre eu e Deus.
Os religiosos de todas as estirpes vivem em geral muito mais preocupados com as filigranas da crença do que com a vivência da fé – e posso dizê-lo por experiência própria. As divisões que fazemos questão de estabelecer entre a nossa e as demais facções da cristandade, e entre a cristandade e as outras heranças religiosas, estão fundamentados, naturalmente, em diferenças de crença. Às vezes dizemos que diante de Deus o desafio da fé é o mesmo para todos, mas agimos claramente como se nossa identidade de cristãos e de seres humanos fosse adequadamente definida pelo teor de nossas crenças. Sentimo-nos devidamente legitimados, devidamente representados, pela felicidade de pertencermos ao grupo ou denominação que professa (ao contrário, naturalmente, de todas os outros grupos ou denominações) a crença mais pura, destilada e correta. Fingimos que nos dobramos diante de Deus e de seu Cristo, mas nosso cristianismo é ortodoxolatria.
“A fé”, explica Ellul, “isola o indivíduo; a crença, (qualquer que seja, inclusive a cristã) ajunta pessoas. Na crença nos vemos unidos a outros na mesma corrente institucional, todos orientados em direção ao mesmo objeto de crença, compartilhando das mesmas idéias, seguindo os mesmos rituais, arrolados na mesma organização, falando o mesmo dialeto.”
Diante disso, sinto-me cada vez menos inclinado a responder aos que perguntam em que acredito, ou aos que levantam-se em indignação quando ouvem a temerária confissão de alguma crença minha (“O quê? O Brabo acredita na evolução?” “O quê? O Brabo não condena a fé dos católicos?” “O quê? O Brabo crê que igreja bem-sucedida é a que fecha as portas?” “O quê? O Brabo acredita em [inserir crença arbitrária aqui]“). Sinto-me cada vez menos motivado a responder aos que perguntam sobre minha tradição religiosa, a qual denominação pertenço, se faço parte de alguma igreja, se endosso determinado autor ou se fico devidamente escandalizado diante de determinada barbárie doutrinária.
Não devo iludir a mim mesmo ou a quem quer que seja dando a impressão de que resta algo de importância na vida espiritual (ou na vida) que não seja a fé, e – minha gente – minha fé não é aquilo em que acredito. Minha fé não está naquilo em que acredito, e nem poderia estar. Minha fé não é adequadamente expressa por aquilo em que acredito, e nem poderia ser.
Em primeiro lugar, porque minhas crenças mudam, mesclam-se e transformam-se constantemente. Minhas crenças nascem, reproduzem-se e morrem num plano totalmente independente do desafio que está na fé. Em segundo lugar porque, como lembra Ellul, “toda crença é um obstáculo à fé. As crenças atrapalham porque satisfazem a nossa necessidade de religião”. Quem pergunta aquilo em que acredito está tentando estabelecer comigo a mais rasteira das conexões; está querendo legitimar a sua crença a partir da minha, e isso não tem como ser saudável para ninguém.
Quem se abraça dessa forma à crença está buscando, evidentemente, o conforto do terreno conhecido e palmilhado. “A crença é confortadora”, observa Ellul. “A pessoa que vive no mundo da crença sente-se segura”.  A fé, por outro lado, é coisa terrível, a que ninguém em são juízo deveria aspirar. A fé deixa-me sozinho com um Deus que pode não estar lá. A fé convida-me a um grau de liberdade que posso não ter o desejo de experimentar. A fé quer tirar-me da zona de conforto da crença e levar-me para regiões de mim mesmo e dos outros aonde não quero ir.  A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida. A crença explica sensatamente aquilo em que acredito, a fé exige loucamente que eu prove.
Nossas crenças são âncoras de legitimação, que nos mantém seguros no lugar mas nos impedem de seguir adiante – o que, convenhamos, é muito conveniente. Quem iria em sã consciência escolher abandonar o abraço confirmatório da crença comum e dar um passo em direção à vertigem da fé, ao desafio de tornar-se um indivíduo separado, distinto e singular (numa palavra, santo) diante de Deus? Queremos voltar para o Egito, onde havia cebolas; não suportamos o desafio constante, sempre iminente, sempre exigente, do deserto.
Não tenho como recomendar a crença; sua única façanha é nos reunir em agremiações, cada uma crendo-se mais notável do que a outra e chamando o seu próprio ambiente corporativo de espiritualidade. Não tenho como endossar a crença; não devo dar a entender que a espiritualidade pode ser adequadamente transmitida através de argumentos e explicações. Não devo buscar o conforto da crença; o Mestre tremeu de pavor e não tinha onde reclinar a cabeça. Não devo ouvir quem pede a tabulação da minha crença; minha fé não é aquilo em que acredito.
Nunca deixa de me surpreender que para o cristianismo Deus não enviou para nos salvar um apanhado de recomendações ou uma lista suficiente de crenças, mas uma pessoa. Minha espiritualidade não deve ser vivida ou expressa de forma menos revolucionária. Não pergunte em que acredito. Mande um email, pegue uma condução, venha até minha casa, tome um café na minha mesa e aceite o meu abraço. Não devo esperar ato maior de fé, e não tenho fé maior para oferecer.
Publicado simultaneamente na versão online da revista Ultimato